Unilever deve mudar foco com crise em emergentes

Por Andrea Felsted.

A crise dos mercados emergentes está gerando impactos nas fabricantes de alimentos e produtos de higiene pessoal.

Com a desaceleração da demanda na China e no Brasil, a Unilever e a Nestlé têm sido forçadas a concentrar o crescimento de suas operações nos mercados desenvolvidos. Ambas as empresas parecem estar se adaptando a esse novo ambiente de maior dificuldade.

Nesta quinta-feira, a Nestlé divulgou números de vendas melhores que o esperado para o primeiro trimestre. O volume de produtos comercializados cresceu 3 por cento no período, resultado melhor que o aumento de 2,5 por cento que os analistas haviam previsto. A empresa projeta uma aceleração do crescimento das vendas no segundo semestre.

Embora atingida pela queda dos preços e pelas taxas de câmbio desfavoráveis, a Unilever informou que o volume de produtos vendidos cresceu 2,6 por cento no primeiro trimestre fiscal, mais que o esperado pelos analistas.

Tanto no caso da Nestlé quanto no da Unilever, parte desse crescimento foi obtida com novas estratégias para marcas de sucesso.

Na Nestlé, isso significa vender café em embalagens para viagem para ficar parecendo que você entrou em uma cafeteria hipster e não que o preparou em sua cozinha. A marca também vem reformulando sua divisão de produtos alimentícios congelados nos EUA.

A Unilever, por sua vez, vem realizando inovações em sua divisão de cuidados pessoais e domésticos: está incentivando os consumidores a usarem os condicionadores antes do xampu. Além disso, está tornando seu desodorante Lynx mais metrossexual do que machão e adicionou mais produtos para o cabelo para atender o mercado de aparência masculina, de rápido crescimento.

A divisão na qual a Unilever poderia implementar uma nova forma de pensar é a de alimentos, que responde por cerca de um quarto das vendas da empresa. Foi a única na qual os volumes caíram — 0,2 por cento –, arrastados pelo desempenho ruim da divisão de “itens de espalhar”, que inclui a margarina Flora. O Gadfly, da Bloomberg, argumentou anteriormente que a Unilever deveria vender essa divisão.

Mas também houve alguns sinais encorajadores nos mercados emergentes.

A Unilever disse que as vendas subjacentes nos mercados emergentes cresceram 8,3 por cento, uma ligeira melhora em relação ao trimestre anterior. A empresa gera cerca de 57 por cento das vendas nesses mercados. Os volumes, ou seja, o número de garrafas e latas de fato vendidas, subiram 3,7 por cento, contra 2,4 por cento nos três meses anteriores.

Os investidores não deveriam se empolgar demais com um trimestre de progresso. Os mercados emergentes continuam voláteis e sujeitos a amplas variações entre as regiões.

As ações da Unilever subiram 12 por cento no ano até agora e as da Nestlé caíram 1,2 por cento. A empresa está colhendo as recompensas por estar buscando controlar custos: lançou um programa de redução de custos de 1 bilhão de euros no fim do ano passado.

A Unilever e a Nestlé são negociadas atualmente em cerca de 21 vezes os lucros para os próximos 12 meses. Ainda existe uma diferença em relação à Reckitt Benckiser, negociada em mais de 24. Esse déficit persistirá até que possam igualar o domínio da Reckitt nos mercados desenvolvidos, onde a empresa tem se expandido agressivamente nos mercados de crescimento mais rápido, como o de medicamentos de venda livre.

A avaliação da Unilever atualmente está sendo atrasada pela crise do segmento de “itens de espalhar”. A empresa já mostrou que é capaz de cortar custos. Os resultados de quinta-feira reforçam o argumento de que a companhia deveria ir além e se desfazer dessa divisão para poder continuar crescendo.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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