Para manter sua relevância, país deve investir em captura de carbono, hidrogênio e eletrificação limpa
Não é novidade que o Brasil tem condições singulares de liderar a transição energética para uma economia verde, porém a oportunidade pode passar, caso o país não concentre esforços em tecnologias de captura de carbono, hidrogênio e eletrificação limpa, segundo a BloombergNEF, consultoria internacional em mercados globais de commodities e tecnologias disruptivas.
Os investimentos em energia limpa devem chegar a US$ 20 bilhões pela primeira vez na América Latina em 2023, sendo que boa parte deve ser aportada no Brasil. O desafio é longo, porém o CEO global da consultoria, Jon Moore, acredita que o país reúne condições ideais para pavimentar o caminho para a transição para uma economia de baixo carbono.
Investimento em energia limpa deve chegar a US$ 20 bilhões pela primeira vez na América Latina em 2023
Em entrevista ao Valor, Moore diz que o Brasil está bem posicionado. Empresas nacionais e internacionais investiram US$ 14,8 bilhões em energia limpa em 2022, aumento de 18% em relação ao ano anterior. A BloombergNEF espera que novos investimentos em energia limpa na região permaneçam fortes em 2023, à medida que a expansão das fontes eólica e solar continua e os impulsionadores do crescimento se diversificam.
“O investimento em energia limpa deve chegar a US$ 20 bilhões pela primeira vez na América Latina em 2023, desafiando ventos macroeconômicos contrários, incluindo inflação, aumento das taxas de juros e desaceleração do crescimento do PIB com o fim dos estímulos da era pandêmica”, prevê Moore.
Neste tripé de vultosos investimentos em captura de carbono, hidrogênio e eletrificação limpa, o Brasil se destaca pelas características de geração de energia. Hoje, mais de 80% da matriz elétrica brasileira é renovável, o que contribui para tornar o país um dos grandes protagonistas deste novo mercado.
Para os próximos anos, isso não deve mudar, já que os dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que para 2023 está prevista a entrada em operação de 9,45 gigawatts (GW) de capacidade. Deste montante, 8,7 GW são de eólica e solar.
Além disso, o Brasil tem um dos menores custos marginais para geração de energias renováveis, o que é fundamental para barateamento do processo de eletrólise e para tornar o hidrogênio verde brasileiro competitivo. Já as tecnologias de captura de carbono devem ser a próxima fronteira a ser superada.
Por conta de uma forte política estatal de subsídios para as energias renováveis, em uma década, a energia solar saiu praticamente do zero em capacidade instalada na matriz elétrica brasileira para o posto de segunda colocada, atrás das hidrelétricas.
Para Moore, à medida que as tecnologias e os mercados amadurecem, é natural eliminar gradualmente alguns incentivos, como o que vem acontecendo. “Esperamos que as instalações [de energia solar] nos telhados diminuam neste ano, já que novos consumidores começam a arcar com os custos da rede vinculados aos seus ativos fotovoltaicos nos telhados.”
Já no setor eólico, as empresas no Brasil aguardam regulamentação para geração eólica em alto mar. Ele lembra que o Brasil possui os melhores recursos eólicos terrestres do mundo e isso significa que o país tem potencial para produzir o hidrogênio verde mais barato do mundo usando energia eólica em terra. Por outro lado, ele não enxerga viabilidade financeira da geração em mar no curto prazo.
“Economicamente, a BloombergNEF não espera que essa tecnologia (geração em mar) seja competitiva no curto prazo, dado os grandes recursos eólicos e solares ‘onshore’ do Brasil. No entanto, é possível que o país realize leilão eólico ‘offshore’ dedicado nos próximos anos, o que pode representar uma rota para o mercado”, diz.
Essa matéria foi publicada originalmente por Robson Rodrigues, do Valor Econômico.
##