Valorização do iene põe em perigo exportações

Por Chikako Mogi e Hiroko Komiya.

A primeira valorização do iene em comparação com o euro desde 2011 está cimentando a especulação de que terminou o período de baixa da moeda, o que significa um golpe para os exportadores japoneses.

Na previsão mais otimista – a do Bank of America Corp. – o iene este ano iria desfazer todas as perdas desde que o Bank of Japan (BOJ) iniciou uma flexibilização monetária recorde em 2013. A moeda teve a maior valorização na segunda-feira desde janeiro passado quando a queda nas ações globais aumentou a demanda por ativos mais seguros. Sua força pode já estar deixando as exportações japonesas menos competitivas, com as piores quedas em quase três anos em novembro.

A reviravolta na situação das moedas reflete a preocupação de que os responsáveis pela política econômica do Japão têm pouco espaço para aumentar o estímulo, enquanto o Banco Central Europeu continua a expandir a oferta de dinheiro para estimular o crescimento. A potencial perda para exportadores, incluindo Toyota Motor Corp., a maior montadora do mundo, e Nissan Motor Co. ameaça os esforços do presidente do BOJ, Haruhiko Kuroda, para impulsionar a economia, que está apenas começando a eliminar a deflação que arruinou o país na maior parte dos últimos vinte e cinco anos.

“O iene já está fraco demais, enquanto o euro tem margem para uma maior desvalorização”, disse Shusuke Yamada, estrategista de câmbio da unidade Merrill Lynch do Bank of America em Tóquio. “O Bank of Japan enfrenta opções de flexibilização cada vez mais limitadas”.

O Bank of America prevê que o iene vai se valorizar 13 por cento até 31 de dezembro chegando a 114 por euro, ampliando o avanço de 11 por cento do ano passado e levá-lo de volta aos níveis vistos pela última vez em janeiro de 2013. Isso acontece três meses antes do BOJ ter anunciado que iria começar o estímulo ilimitado – o que tende a enfraquecer a moeda – ao impulsionar seu programa de compra de ativos.

Visão de consenso

A média das previsões de 50 estrategistas consultados pela Bloomberg coloca o iene a 131 por euro no final do ano, mais forte do que a previsão de 137 em meados de novembro. A moeda do Japão valorizou na segunda-feira subindo para 128,68, o maior valor em oito meses, e negociando a 129,32 a partir das 09h00 em Tóquio na terça-feira. O valor mais baixo foi de 149,78 pós-crise em dezembro de 2014.

Analistas veem o iene caindo cerca de 4 por cento em relação ao dólar este ano, depois de mudar muito pouco em 2015 e perdendo mais de um terço de seu valor ao longo dos três anos anteriores. Estava em 119,46 por dólar na terça-feira.

Uma divergência na política monetária está levando a moeda a japonesa a se valorizar em relação ao euro.

Escassas esperanças

O BOJ não mudou seu principal programa de compra de bonds em 18 de dezembro, e não vai expandi-lo no futuro próximo, de acordo com quase metade dos entrevistados para uma pesquisa da Bloomberg no mês passado. O BCE anunciou um pacote de medidas de estímulo em 3 de dezembro, ampliando seu programa de flexibilização quantitativa, e cortando uma das suas principais taxas de juro.

As exportações japonesas caíram 3,3 por cento em novembro em comparação com o ano anterior, o maior desde dezembro de 2012, disse o Ministério das Finanças no mês passado. As exportações para a Europa caíram 45 por cento desde o pico em março de 2008, enquanto o iene mais forte ajudou a recuperar as importações em 18 por cento durante o mesmo período.

Ameaça maior

O avanço do iene ameaça mais do que apenas as exportações, pois uma moeda mais fraca é crucial para aumentar o crescimento e os preços ao consumidor. O primeiro-ministro Shinzo Abe escolheu a dedo Kuroda para chefiar o BOJ em 2013 e realizar a flexibilização monetária que é parte fundamental da chamada política de Três Flechas, que quer renovar a terceira maior economia do mundo.

Os preços ao consumidor japoneses vão crescer apenas 0,8 por cento em 2015, previram os economistas consultados pela Bloomberg, uma queda em relação à alta de 2,7 por cento, o maior dos últimos 23 anos, em 2014.

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