Varejo brasileiro espera por dias melhores apesar de recessão

Por Fabiola Moura, com a colaboração de David Biller.

O verão escaldante de São Paulo é a desculpa perfeita para entrar em um shopping com ar condicionado na cidade mais populosa da América Latina. O surpreendente é que, com a economia do Brasil derretendo ao ritmo mais acelerado em um século, muitas pessoas estão indo para estes centros de compras não apenas para se refrescar. Elas estão saindo de lá com sacolas.

Isso está enviando um sinal encorajador para algumas das maiores empresas de varejo do país. A Cia. Brasileira de Distribuição e o Carrefour estão mantendo seus planos de expansão para este ano, apostando que os consumidores ainda vão procurar por itens com descontos e alimentos básicos. A fabricante de sapatos Arezzo, que escolheu a top model Gisele Bündchen para ser o rosto — e os pés — da próxima coleção de inverno da marca Arezzo, disse que planeja abrir 25 lojas em 2016. O número é apenas ligeiramente menor que o de 30 inaugurações, pelo menos, que a empresa havia planejado para 2015.

“A gente está falando de uma desaceleração, não de uma parada total” das vendas, disse Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados, de São Paulo.

O IBGE disse na semana passada que as vendas do varejo cresceram inesperadamente 1,5 por cento em novembro, contra uma contração estimada de 0,8 por cento, porque os consumidores aproveitaram as promoções de fim de ano.

O segundo mês seguido de aumento nas vendas do varejo está gerando um otimismo entre os economistas de que o ritmo da queda do produto interno bruto poderá ser reduzido ao longo dos próximos meses. Contudo, eles não preveem uma recuperação iminente para uma economia que encolheu nos três primeiros trimestres do ano passado. O Brasil caminha para sua contração mais profunda em um período de dois anos desde 1901 e o governo tem dificuldades para reanimar o crescimento e conter a inflação, que está acima da meta.

Além da recessão de 3,6 por cento em 2015, a maior economia da América Latina encolherá 2,5 por cento neste ano, segundo a estimativa média de 34 economistas consultados pela Bloomberg. O resultado contrasta com a projeção de crescimento de 3,3 por cento do PIB global. O desempenho econômico anêmico, aliado às repercussões da Operação Lava Jato e ao mercado acionário no menor patamar desde 2009, está pesando sobre a confiança do consumidor no Brasil.

Produtos baratos

O resultado é o seguinte: os brasileiros ainda estão comprando, mas enchem o carrinho com produtos mais baratos após o desemprego atingir o nível mais elevado em três anos, pelo menos, e a redução do crédito ao consumidor, segundo Zara.

No último fim de ano, em um tradicional shopping de São Paulo, os consumidores escolheram itens mais baratos que nos anos anteriores para presentes de Natal, disse Damaris Cândido Teixeira, vendedora da loja de sapatos Capodarte, no Shopping Morumbi.

“As clientes compraram sapatilhas básicas em vez de itens caros”, disse Teixeira. “Se tivéssemos um milhão de sapatilhas teríamos vendido todas”.

Planos de expansão

É por essa razão que algumas empresas de varejo não estão se intimidando na hora de colocar dinheiro no Brasil. A GPA, como a Cia. Brasileira é conhecida, disse em 12 de janeiro que as vendas deram um salto de 5,5 por cento em 2015. A maior rede de varejo do País manterá seus planos de expansão em lojas de conveniência e de atacado de autosserviço, mas será mais seletiva em seus investimentos para proteger caixa para enfrentar cenários de incertezas, disse a empresa por e-mail.

O Carrefour, com sede na França, a segunda maior rede de supermercados do Brasil, disse que continuará se expandindo no País ao mesmo ritmo de 2015.

“O Brasil foi um motor de crescimento para o grupo”, disse a empresa por e-mail.

Nem todas as grandes redes sentem isso. A Wal-Mart Stores, líder mundial em varejo, anunciou na semana passada planos de fechar 60 lojas deficitárias no Brasil, um mercado em que tem enfrentado dificuldades.

Embora as estratégias das empresas varejistas possam ser divergentes, o mercado brasileiro ainda é promissor a longo prazo devido ao seu tamanho e ao seu potencial de consumo, disse Zara.

“A gente tem 200 milhões de habitantes e um poder de consumo alto,” disse Zara. “É um mercado muito atrativo mesmo que você tenha no curto prazo um ou dois anos de crescimento negativo.”

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