Por Marie Mawad, Helene Fouquet, Nico Grant e Dandan Li
Alice Liogier quer colocar um preço em seus dados.
A universitária de 23 anos de Paris está pesquisando o uso comercial de informações pessoais na era do big data e chegou a uma conclusão polêmica: se as pessoas realmente forem donas de seus dados, elas deveriam poder vendê-los.
De Bruxelas a Pequim, os órgãos reguladores estão tentando conter o uso de informações pessoais e muitos usuários do Facebook estiveram analisando suas configurações de privacidade nas últimas semanas por causa do escândalo da Cambridge Analytica. Mas Liogier argumenta que os empreendedores, autoridades e executivos que quiserem se familiarizar com a próxima fase da era do big data precisarão procurar mais.
Não se trata de privacidade, diz ela, trata-se de propriedade e controle.
“O debate agora está focado na proteção de dados e na privacidade – é aí que os medos se cristalizaram”, diz Liogier. “Mas a venda de dados e a propriedade de dados é o próximo grande tema, e provavelmente seja o tema mais importante.”
Consumidores de todo o mundo estão se dando conta de que os impérios on-line do Facebook e do Google se baseiam em dados que eles aceitaram conceder sem qualquer compensação monetária. O próximo passo será pensar nas alternativas, argumenta Liogier, que defendeu sua tese de mestrado na Sciences Po em Paris no mês passado e começará a trabalhar em consultoria de gestão após o verão boreal.
Revolução de big data
A propriedade real dos dados significará ter todas as suas informações, como ideias políticas, preferências de cuidados com a pele e histórico médico, em um único lugar para que você possa decidir quem os acessará e sob quais condições. Isso poderia significar vendê-los, conceder uso limitado em troca de um serviço (como o Facebook) ou simplesmente mantê-los privados. O objetivo é ter controle.
Como parte dessa tendência, o Facebook está considerando oferecer uma versão de seus serviços sem propaganda para os clientes que estiverem dispostos a pagar.
Não se trata apenas de refrear anúncios assustadores. A capacidade de processar grandes quantidades de dados pessoais promete mudar nossos relacionamentos, nossos governos e até mesmo nossos corpos – sem falar, é claro, de nossos hábitos de consumo.
A Netflix já está usando dados de clientes para criar programas de TV e em breve os carros inteligentes poderão alertar as operadoras de rodovias sobre buracos na estrada ou acionar anúncios de outdoor diferentes para motoristas que estiverem escutando música country ou hip hop. Um estudo da Universidade de Cambridge descobriu que, depois de 300 curtidas, o Facebook sabe mais sobre sua personalidade do que seu cônjuge.
Como lidamos com esse novo poder é um desafio tanto cultural quanto regulatório. Uma geração mais jovem de consumidores e um grupo mais velho de autoridades já estão se debatendo com isso. Os órgãos reguladores na Europa podem moldar a abordagem dos gigantes da tecnologia dos EUA, assim como os empreendedores europeus podem aproveitar as tendências dos EUA.
Pairando sobre ambos está o mercado chinês de 1,4 bilhão de pessoas cada vez mais experientes em internet. Essa população continua cercada por restrições do governo por enquanto, mas constitui a fonte suprema de big data para as empresas.
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