Venezuelanos se inclinam pela oposição nas eleições legislativas

Por Andrew Rosati.

Atormentada pela criminalidade desenfreada, pela corrupção fora de controle e pela contração econômica sem precedentes, a Venezuela elegerá um novo parlamento no domingo, e a oposição está perto de uma vitória decisiva pela primeira vez em 16 anos. Mas, em vez de impulsionar o país para um caminho mais estável, a eleição pode fazer com que o país se afunde ainda mais em uma situação disfuncional.

O produto interno bruto da Venezuela, país rico em petróleo, vai diminuir 10 por cento neste ano – mais que o de qualquer outro país do mundo – de acordo com previsões do Fundo Monetário Internacional.

“Em outras palavras, temos um desempenho tão negativo que é comparável ao de um país em guerra durante um tempo de paz”, disse José Manuel Puente, economista do Instituto de Estudos Avançados em Administração de Caracas.

O resultado é que muitos venezuelanos, diante da escassez crônica e da inflação de três dígitos, estão se perguntando como o país, membro da OPEP com mais petróleo do que a Arábia Saudita, pôde deixá-los tão pobres. E estão prometendo votar com raiva.

De repente, vegetariano

“Fui forçado a virar vegetariano”, afirmou o operário da construção Nelson Velázquez, 51, enquanto procurava alimentos regulados na zona oeste de Caracas. “Não vejo frango há meses e a carne está cara demais. O que começou como uma revolução se tornou uma traição”.

Uma derrota do partido governante seria um segundo golpe significativo para o bloco de líderes populistas de esquerda da América do Sul após a derrota na última eleição presidencial da Argentina. O desmoronamento do preço do petróleo e de outras commodities está colocando em risco os governos em todo o continente.

Embora uma vitória decisiva da oposição na Venezuela pudesse levar a um referendo revogatório presidencial, a maioria dos analistas alerta contra expectativas de uma mudança radical. A oposição no controle do congresso, enfrentando todos os outros ramos do governo, incluindo as Forças Armadas, tem mais probabilidade de causar uma dor de cabeça para o governo do que de alterar imediatamente o status quo.

Revolução socialista

O presidente Nicolás Maduro, que assumiu o cargo em 2013, dobrou o emaranhado sistema de controles iniciado por seu mentor, Hugo Chávez, que afirmava estar liderando uma revolução socialista. Os problemas financeiros da Venezuela, diz Maduro, não são o resultado de políticas imprudentes, mas de uma guerra econômica contra os inimigos políticos. Essas afirmações, antes muito aceitas pelos fiéis seguidores do partido na Venezuela, parecem estar sendo cada vez mais ignoradas.

Os bonds com referência em dólar da Venezuela têm um yield de mais de 20 por cento, pois os investidores estão preocupados de que anos de dificuldades econômicas poderiam levar ao calote.

Depois de anos de criminalidade, aumento dos preços e prateleiras vazias, cerca de 90 por cento dos venezuelanos agora têm uma visão negativa do país, segundo a Datanalisis, uma empresa de pesquisas de Caracas. O presidente Maduro é o principal acusado, e os candidatos do seu partido estão perdendo por quase 20 pontos.

Ainda não está claro qual será o resultado dessa liderança no domingo, em parte por que os dados da Venezuela não são confiáveis, em parte porque muitos eleitores continuam indecisos e também porque o sistema eleitoral favorece a população rural pobre, a base de apoio do governo.

Referendo revogatório

Uma derrota esmagadora nas urnas no domingo poderia produzir o tipo de referendo revogatório que não conseguiu derrubar Chávez em maio de 2004. Uma margem menor poderia levar a um impasse político e a um processo doloroso de tentar extrair concessões do presidente.

Enquanto isso, a oposição dificilmente inspira devoção entre os eleitores. Muitos estão se perguntando sobre a perspectiva de um congresso controlado por uma mistura briguenta de mais de uma dezena de partidos – de marxistas à centro-direita – que há muito têm dificuldades para chegar a acordos entre si, que dirá conectar-se com os seguidores do governo. Sua principal plataforma é a anistia para os presos políticos, e Leopoldo López, líder da oposição e crítico do governo, é o mais famoso deles.

Ampla Margem?

“Quais propostas eles têm?”, pergunta Ingrid Martinez, profissional de estatística de 47 anos, em um evento de campanha do governo nas favelas da zona oeste de Caracas, sobre a oposição. “Eles estão ocupados demais brigando entre si e nunca vieram aqui. O único interesse deles é derrubar o governo”.

Mesmo assim, se o governo perde por uma larga margem, algo poderia começar a tremer.

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