Viagem da Guinness na Irlanda mostra custo do Brexit no comércio

Por Dara Doyle.

A Guinness, o mais icônico dos produtos irlandeses de exportação, é um exemplo do possível custo da decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia.

O conteúdo de quase todas as garrafas e latas dessa cerveja stout preparada desde meados do século 18 na fábrica St. James’s Gate, perto do Rio Liffey, em Dublin, atravessa a fronteira da Irlanda com o Reino Unido duas vezes antes de chegar aos consumidores.

Ingredientes de toda a Irlanda são transportados a Dublin, onde a água, a cevada, o lúpulo e a levedura são misturados para produzir a cerveja. A bebida depois é bombeada em caminhões-tanque conhecidos como balas de prata e transportada para Belfast, na Irlanda do Norte, no Reino Unido, a 140 quilômetros para o norte. Lá, o líquido é colocado em garrafas e latas antes de ser reenviado para o sul para distribuição.

A Guinness ressalta a preocupação em relação ao que acontecerá com a única ligação terrestre do Reino Unido com a UE: a fronteira de 500 quilômetros entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda. Embora políticos e diplomatas de Dublin, Londres e Bruxelas insistam que não retornarão aos controles realizados durante o violento conflito sectário na Irlanda do Norte, a realidade pode ser muito mais complicada. Os líderes da UE deverão realizar uma cúpula em 29 de abril para abrir caminho para dois anos de negociações do Brexit.

“Para mim não há dúvida, é preciso que haja algum tipo de visibilidade aduaneira dos dois lados da fronteira”, disse Robert Murphy, um ex-agente de fronteira da autoridade fiscal irlandesa que depois trabalhou na Comissão Europeia, em Bruxelas. “A ideia de ter uma fronteira ininterrupta e sem fricção é adorável, mas eu me pergunto se tem algo de realista.”

Os controles de fronteira começaram a desaparecer nos anos 1990, quando os governos britânico e irlandês, apoiados pela UE, promoveram um acordo de paz entre os nacionalistas, em sua maioria católicos, que lutavam por uma Irlanda unida, e os lealistas, em grande parte protestantes, que defendiam o status quo.

Atualmente, os consumidores têm liberdade para atravessar a fronteira usando seus euros irlandeses ou libras britânicas. O comércio transfronteiriço é avaliado em mais de 3 bilhões de euros (US$ 3,2 bilhões) por ano, estima o governo irlandês.

Para a Diageo, a dona da Guiness, que tem sede em Londres, isso significa que os caminhões da companhia podem ir para o norte e para o sul sem obstáculos.

A cada ano, eles atravessam a fronteira da Irlanda 13.000 vezes em viagens relacionadas à cerveja. Somando o Baileys, o licor baseado em uísque e creme, o número sobe para mais de 18.000. Uma fronteira dura poderia ocasionar atrasos de 30 minutos a uma hora, gerando um custo extra de 100 euros para cada jornada, informou a companhia. Isso elevaria em 1,3 milhão de euros o custo da Guinness e de outras cervejas produzidas pela Diageo na Irlanda.

A empresa informou que trabalhará com os governos britânico e irlandês para encontrar uma solução para a questão da fronteira.

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