Vínculo entre ações de bancos e crédito deve preocupar Europa

Por Alessandro Speciale e Carolynn Look.

Não subestime o custo que a queda das ações de bancos, ocorrida após o Brexit, pode provocar à economia da zona do euro.

Os cálculos iniciais do efeito do referendo do Reino Unido sobre a recuperação da região sugeriram que o golpe será relativamente moderado, e o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, disse aos líderes da União Europeia que o impacto do comércio direto poderia atingir 0,5 pontos percentuais no decorrer de três anos.

Mas esses cenários não levam em conta a consequência do declínio de 23 por cento das ações de bancos após o triunfo do Brexit. Historicamente, as ações de bancos se correlacionam fortemente com os créditos bancários, com cerca de um ano de atraso.

Analistas do Deutsche Bank dirigidos por Marco Stringa afirmam em um artigo publicado no dia 5 de julho que também há um vínculo causal: como agora os bancos estão sendo pressionados por regulamentações a reunir capital, a queda dos preços das ações e a baixa rentabilidade dificultam muito a acumulação de capital de forma externa ou interna. O preço das ações do próprio Deutsche Bank caiu mais de 25 por cento desde o dia 23 de junho.

Se os bancos tiverem problemas para levantar capital, eles podem sofrer mais pressão para diminuir ativos. Isso poderia acarretar menos crédito para a economia.

Executivos do setor costumam afirmar que a exigência de que os bancos tenham mais capital próprio em vez de tomarem empréstimos do mercado limita a capacidade de aumentar crédito. Os órgãos reguladores rebatem que, na verdade, requisitos de capital mais elevados fortalecem a capacidade de um banco de fazer empréstimos, não o contrário.

Impacto do Brexit

Mesmo assim, talvez não falte muito para que o Brexit interrompa a tímida recuperação dos créditos bancários na zona do euro, que começou só no ano passado, especialmente pelo impacto da incerteza sobre as decisões de investimento de famílias e empresas.

O impacto de uma nova escassez de crédito sobre as empresas europeias, extremamente dependentes dos bancos, poderia ser severo. Não é por acaso que consertar os bancos para reativar o crédito na economia real seja um dos principais objetivos das políticas do BCE desde a crise.

Stringa estima que se os bancos decidirem manter seus balanços inalterados até o fim de 2017, isso poderia reduzir pela metade o crescimento econômico da zona do euro no próximo ano. Pior ainda, se os bancos conseguirem reunir apenas metade do capital que precisam para cumprir os requisitos chamados pelos economistas de “Basileia IV”, isso poderia obrigá-los a reduzir os ativos ponderados pelo risco de suas carteiras de empréstimos.

Até mesmo uma contração de 2 por cento no crédito poderia provocar uma recessão e aumentar o desemprego na zona do euro, segundo o estudo, que não leva em conta as repercussões de uma possível queda da demanda global. Seria a terceira recessão da região em menos de 10 anos.

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