Por Mario Sergio Lima.
O mercado de trabalho brasileiro deve levar mais tempo para se recuperar, mostrando o desafio para o governo Jair Bolsonaro reverter anos de eliminação de empregos e retomada anêmica.
A taxa de desemprego no trimestre até janeiro subiu pela primeira vez desde o início de 2019, para 11,2%, segundo dados divulgados na sexta-feira. Embora o índice seja menor do que há um ano, o desemprego deve permanecer na casa de dois dígitos ao longo de 2020, segundo projeções.
A expectativa de aumento do número de vagas abertas este ano não reflete totalmente as condições do mercado de trabalho, que ainda sofre com grande informalidade, renda estagnada e baixa produtividade. Para piorar o cenário, o surto global de coronavírus leva alguns analistas a alertarem para um possível impacto na economia doméstica. “O coronavírus pode roubar pontos no PIB, e isso provoca uma desaceleração dessa melhora do mercado de trabalho, mas ainda haverá uma melhora”, disse Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter.
Confira os três principais fatores positivos e três aspectos negativos que podem influenciar o mercado de trabalho este ano:
Crescimento acelerado
Por enquanto, o mercado espera que o crescimento do PIB deve quase dobrar para cerca de 2,2% este ano, e esse aumento pode resultar em 900 mil novos empregos formais, mesmo em meio às preocupações com o coronavírus, segundo a Fundação Getulio Vargas. Se essa previsão se concretizar, representará um aumento de quase 50% no número de novas vagas em relação a 2019. Há sinais de que a recuperação da economia tem incentivado as pessoas a procurar emprego. “O principal fator que vamos ver é o retorno de trabalhadores desalentados à força de trabalho”, disse Daniel Duque, pesquisador da FGV.
Juros baixos
Setores intensivos em mão de obra, que se beneficiam dos juros em mínimas históricas – como construção, varejo e serviços -, podem registrar o segundo ano seguido de forte criação de empregos em 2020. As baixas taxas de juros também alimentam o otimismo em relação à economia, que, por sua vez, ajuda a diminuir o desemprego, segundo Adriana Dupita, economista para a América Latina da Bloomberg Economics.
Regras de contratação
Novas regras que permitem contratos flexíveis ajudaram a criar mais de 80 mil vagas no ano passado, e cada vez mais empresas aderem à mudança. Sob esse modelo de vagas intermitentes, as empresas podem optar por pagar um salário por hora, e não mensalmente aos funcionários. Muitas consideram esse tipo de contrato como uma opção atraente para trabalhadores sem experiência e para pessoas que ficaram um longo período fora do mercado de trabalho, e se tornou uma alternativa à contratação temporária durante a temporada de fim de ano ou datas com maior movimento. “Esse modelo é baseado na ideia de que o que determina o salário não é o tipo de contrato, mas a demanda pelos serviços dos trabalhadores”, afirmou André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.
Informalidade
Não há sinal de que a informalidade no mercado de trabalho caia em breve. Quase 4 milhões de brasileiros dependem de serviços de aplicativos móveis como Rappi e Uber para obter renda, segundo o IBGE. Embora ofereçam horários flexíveis e uma fonte de renda, esse tipo de trabalho tende a ter menos estabilidade e direitos. Além disso, haverá menos oportunidades no setor daqui para frente, de acordo com Duque.
Renda líquida
A renda líquida média ajustada pela inflação está estagnada desde pelo menos 2012, segundo o IBGE, coincidindo com anos de fraco crescimento econômico. Ao considerar trabalhadores por conta própria, a renda média é ainda menor. Para piorar, novos contratados recebem, em média, salários mais baixos do que trabalhadores que foram demitidos, segundo estudo do Itaú Unibanco.
Baixa produtividade
Baixos níveis de produção seguram os reajustes de salários e a expansão econômica. No Brasil, um trabalhador leva cerca de uma hora para produzir um bem, enquanto um empregado nos Estados Unidos levaria, em média, apenas 15 minutos, de acordo com estudo do Conference Board, de Nova York. Baixos níveis de escolaridade, bem como infraestrutura e tecnologia defasadas, são considerados os principais culpados