Visita de Macri contrapõe protecionismo com visão pró-mercado

Por Matthew Malinowski e Charlie Devereux com a colaboração de Samy Adghirni, David Biller, Leonardo Lara e Rafael Mendes.

Dois dos presidentes mais pró-mercado da América do Sul estão lutando para livrar-se das políticas protecionistas do passado no que diz respeito ao comércio internacional.

A visita do presidente argentino Mauricio Macri a Michel Temer, nesta terça-feira, reúne os líderes das duas maiores economias do Mercosul. Ambos assumiram o cargo em meio a profundas crises econômicas em seus respectivos países e ganharam elogios dos investidores por desmantelar as políticas anticompetitivas de seus antecessores esquerdistas em seus esforços para impulsionar o crescimento.

Em meio à reavaliação global de acordos comerciais impulsionados pelo presidente dos EUA Donald Trump, Argentina e Brasil querem discutir o aprofundamento dos laços comerciais bilaterais, bem como formas de impulsionar o alcance internacional do Mercosul. Mas, com o recorde de desemprego no Brasil e as eleições legislativas previstas para este ano na Argentina, a questão é saber o quão dispostos os dois líderes estarão a buscar uma agenda de livre comércio.

“Apesar de Temer e Macri serem classificados como favoráveis ​​ao mercado, eles ainda são bastante sensíveis ao ambiente político em ambos os países”, disse Edward Glossop, economista da Capital Economics, por telefone. “Há desafios domésticos muito mais severos a superar primeiro antes de tentar estimular o comércio no Mercosul.”

Desde sua fundação em 1991, o bloco comercial do Mercosul – que inclui o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai – foi dividido por disputas internas sobre política comercial. Ele tem feito pouco progresso em negócios notáveis ​​fora da região. As conversações entre a União Europeia e o Mercosul começaram em 1999, mas as duas organizações ainda não finalizaram um acordo.

“O Mercosul é o pior dos dois mundos”, disse Oliver Stuenkel, professor associado de relações internacionais na Fundação Getulio Vargas, uma escola de negócios e um grupo de reflexão. “É um acordo de livre comércio que não funciona e que limita a capacidade de seus membros de assinar outros acordos de livre comércio”.

Tanto Temer como Macri implementaram políticas economicamente liberais como parte dos esforços para retirar seus países da recessão. Enquanto Temer estabeleceu limites ao gasto público brasileiro e começou a abrir infraestrutura para o investimento estrangeiro, Macri retirou os controles cambiais e restaurou o acesso da Argentina aos mercados de títulos globais. Economistas esperam que ambos os países voltem ao crescimento este ano, embora a recuperação do Brasil ainda esteja modesta.

Parceiros comerciais

A Argentina continua a ser um mercado-chave para as exportações brasileiras, ficando em terceiro lugar na lista de parceiros comerciais do Brasil, atrás da China e dos EUA.

A crise no Brasil obrigou a Argentina a diversificar suas exportações para a Ásia e a Europa, segundo Marcelo Elizondo, diretor de consultoria de comércio internacional Desarrollo de Negocios Internacionales. Mas, o Brasil continua a ser o maior parceiro comercial da Argentina e é um mercado essencial para o setor manufatureiro e para as pequenas e médias empresas, disse Elizondo.

“A Argentina vende produtos agrícolas para o mundo inteiro, mas vende metade de seus produtos industriais para o Brasil”, disse Elizondo. “Quando o Brasil cresce, a Argentina cresce.”

Enquanto as exportações argentinas para o Brasil contraíram 11 por cento em 2016 para US$ 9,03 bilhões, há sinais de que o comércio entre os dois pode estar retomando. As exportações aumentaram 57% ano-a-ano em dezembro para US$ 847 milhões, impulsionado por um aumento de 75% nas vendas de veículos. As importações do Brasil no mesmo período cresceram 28%, para US$ 1,3 bilhão.

Grande parte do comércio entre os dois permanece regida por uma série complexa de tarifas e quotas que poucos esperam ver mudar em breve.

Na indústria automotiva, que representa metade do comércio do Brasil e da Argentina, um acordo firmado em junho do ano passado estipula que o Brasil pode vender 1,5 dólar de bens automotivos isentos de impostos para a Argentina por cada dólar de mercadorias que importa. Antonio Megale, presidente da Associação Brasileira de Automobilistas Anfavea, disse aos jornalistas na segunda-feira que não espera mudanças no acordo após a visita de Macri.

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