Brasil: Volpon pede aumento de juros, real se valoriza e ações brasileiras recuam

Por Denyse Godoy, Paula Sambo e Filipe Pacheco.

As ações brasileiras caíram para o valor mais baixo em quase quatro meses por causa da especulação de que o custo do crédito na maior economia da América Latina pode aumentar mais, o que piora as perspectivas para as ações. O real avançou pela primeira vez em quatro dias.

O Ibovespa prolongou sua queda neste mês depois que o diretor do Banco Central, Tony Volpon, disse que os responsáveis pela política econômica deveriam continuar aumentando as taxas de juros até que as expectativas para a inflação atinjam a meta do governo. O índice de referência do mercado acionário brasileiro despencou 11 por cento em relação ao pico deste ano pela preocupação de que a decisão de elevar a taxa Selic para seu maior valor em seis anos, a fim de controlar os preços ao consumidor, aprofunde a contração econômica.

“O Banco Central provavelmente vai incrementar as taxas novamente na próxima semana, seguindo uma tendência que está prejudicando a economia e as perspectivas para as empresas”, disse Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da TOV Corretora, em entrevista por telefone de São Paulo.

A presidente Dilma Rousseff está tendo dificuldades para reduzir a inflação, que está acima da meta, e estimular a economia. Os lucros para as empresas no Ibovespa caíram em média 36 por cento no primeiro trimestre, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O índice perdeu 0,2 por cento e caiu para 51.474,28 pontos no encerramento do pregão em São Paulo, revertendo uma alta que tinha chegado a 0,8 por cento ao longo do dia. Os bancos Itaú Unibanco Holding SA e Banco Bradesco SA foram os que mais contribuíram para a baixa. O real subiu 0,8 por cento, para 3,1718 por dólar, e lidera os ganhos entre as moedas latino-americanas.

Taxas de swap

As taxas de swap, um indicador das expectativas de mudança nos juros, mostram que o mercado espera que a autoridade monetária eleve as taxas de juros mais uma vez em 2015. O Brasil é o único membro do G20 a aumentar os custos do crédito neste ano. No mês passado, os membros do comitê de política monetária do banco central votaram por unanimidade o aumento da Selic, a taxa de referência, em 0,5 ponto percentual, para 13,75 por cento.

“Eu, pessoalmente, vou votar pelo aumento dos juros para atingir a meta em 2016”, disse Volpon na segunda-feira em São Paulo. “As expectativas continuarão caindo, especialmente em 2016, mas ainda é muito cedo. Precisamos estabilizar e consolidar esta estrutura, para finalmente podermos pensar na acomodação monetária”.

Embora os economistas consultados pelo Banco Central tenham diminuído para 5,4 por cento suas estimativas dos preços ao consumidor para o ano que vem, a projeção continua acima da meta. O objetivo é que a inflação seja de 4,5 por cento, mais ou menos 2 pontos porcentuais.

Ajustes orçamentários

Os swaps de crédito prolongaram o declínio depois que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que o governo do Brasil fará ajustes orçamentários caso seja necessário, pois está se empenhando para cumprir as metas fiscais deste ano. Ele está liderando os esforços para reverter o déficit do ano passado e registrar um superávit antes de realizar pagamentos de juros equivalentes a 1,1 por cento do PIB.

As ações de empresas brasileiras e o real caíram na segunda-feira, quando Levy disse que um rebaixamento do rating de crédito da Moody’s Investors Service é mais provável se o Brasil não realizar ajustes econômicos. O Ibovespa entrou em um mercado altista em abril, depois de um rali de mais de 20 por cento em relação ao valor mais baixo registrado neste ano, em meio à especulação de que a atuação do governo ajudaria a reforçar o orçamento e a evitar que o país perda o status com grau de investimento.

A BM&F Bovespa SA, que administra a bolsa brasileira, afundou para o menor valor desde 29 de maio. O Banco BTG Pactual SA reduziu sua recomendação sobre as ações, de compra para neutra, mencionando “os volumes lentos e a falta de melhorias na frente política e econômica”.

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