Por Felipe Marques, Julia Leite e Matthew Winkler.
Um dos principais gestores de fundos do Brasil tem um conselho controverso para o banco central do país: vender reservas em moeda estrangeira antes do novo governo.
“O estigma que criamos de nunca vender reservas é ruim”, disse Carlos Woelz, co-fundador da Kapitalo Investimentos, na semana passada em entrevista em São Paulo. Usar parte das reservas agora “limitaria a capacidade de um novo governo de fazer políticas insustentáveis”.
Se o novo governo eleito em outubro estiver menos disposto a lidar com o problema fiscal do país, ter essa quantia em mãos poderia levar a uma má utilização das reservas, disse ele. As reservas internacionais do Banco Central quase dobraram na última década, para US$ 381,4 bilhões, um nível que Woelz considera insalubre e caro ao longo do tempo.
Woelz, cujo fundo Zeta master de R$ 7,3 bilhões é um dos fundos de hedge de melhor desempenho nos últimos cinco anos no Brasil, não está mais vendido em real e assumiu uma posição mais neutra depois que a moeda caiu mais de 7% em agosto.
O banco central interveio nos mercados de câmbio na quinta-feira, anunciando um leilão de swap depois que o real se aproximou de mínima histórica em meio à crescente volatilidade na Argentina e na Turquia. Woelz diz que o objetivo dessas intervenções é dar espaço para empresas e bancos se adaptarem ao novo nível da moeda.
“A desvalorização cambial tem consequências econômicas reais. As empresas vão à falência porque não se protegem rápido o suficiente ”, disse ele.
Alem de riscos externos, o Brasil se prepara para a volatilidade com as eleições. Pesquisas mostram forte apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto candidatos favoráveis ao mercado não conseguem ganhar força. Apesar do TSE ter barrado a candidatura de Lula, os investidores estão preocupados com a transferência de votos dele para Fernando Haddad. Um assessor econômico do PT disse recentemente que o Brasil deveria usar até 10% de suas reservas internacionais para financiar projetos de infraestrutura.
“Vamos dizer que tenhamos um governo menos disposto a lidar com o problema fiscal”, disse Woelz sem especificar nenhum candidato. “Não é necessariamente bom para este governo receber um alto nível de reservas porque com reservas altas você pode fazer muitas coisas pouco inteligentes.”
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