Xisto não compensa a queda de novas descobertas de petróleo

Por Robert Tuttle.

Três anos depois de provocar o colapso do preço do petróleo, a expansão da indústria de xisto nos EUA pode não bastar para atender ao crescimento da demanda global, em vista dos cortes profundos nos projetos gigantescos e de alto risco.

Neste ano, o total de novas reservas descobertas foi o menor em registro, repondo somente 11 por cento do que foi produzido, de acordo com relatório da consultoria Rystad Energy, publicado em 21 de dezembro. Os poços de xisto (shale em inglês) estão criando excesso de oferta por ora, mas sem mais investimentos em projetos maiores e convencionais, pode haver déficit já em 2019, segundo a canadense Suncor Energy.

A tecnologia de fraturamento hidráulico, que possibilita extrair petróleo de formações rochosas compactas, fez dos EUA o maior produtor mundial de petróleo. Porém, também derrubou a cotação do barril de US$ 115 em 2014 para menos de US$ 55 em outubro deste ano. A queda significa menos incentivo para as empresas investirem bilhões de dólares em novas reservas que demoram anos para desenvolver, mas produzem por décadas.

Seria preciso o barril subir para US$ 80 e se manter nesse nível durante dois anos para justificar o investimento em projetos em águas profundas na costa do Brasil e do Oeste Africano, segundo Adam Waterous, presidente da Waterous Energy Fund. E mesmo assim, poderia levar uma década para o petróleo resultante desses investimentos chegar ao mercado, ele disse. O preço ficou acima de US$ 66 nesta semana.

Por enquanto, os produtores preferem reservas menores e menos arriscadas. Em 2013, quando os investimentos estavam no auge e o barril era cotado acima de US$ 90, o setor iniciava projetos que, no geral, tinham como alvo reservas de 1,1 bilhão de barris e custavam US$ 9 bilhões cada, segundo relatório da Wood Mackenzie. Para 2017, a consultoria calculou que, na média, os projetos teriam reservas de 500 milhões de barris e custariam US$ 3 bilhões.

A revolução do xisto fez com que “as pessoas ficassem muito mais conscientes para não prender capital por tanto tempo quanto no passado”, disse John England, responsável por recursos energéticos da consultoria Deloitte, em Houston. “A mentalidade de menos e por mais tempo é evidente em todo o setor.”

Isso aconteceu principalmente porque o fraturamento em formações de xisto em Estados americanos como Texas e Dakota do Norte transformou o setor.

Historicamente, gigantes como Royal Dutch Shell e Exxon Mobil investiam dezenas de bilhões de dólares durante vários anos para desenvolver reservas gigantescas em locais isolados, como o norte da província canadense de Alberta, o Cazaquistão e o meio do oceano. O xisto é diferente. Dá para perfurar um poço em um ano gastando poucos milhões de dólares. Com a queda do preço, mais empresas chegaram para investir.

No entanto, apesar da força passada e futura da produção de petróleo de xisto nos EUA, essas reservas sozinhas terão dificuldade em acompanhar a crescente demanda global se não houver aceleração da aprovação de projetos convencionais, de acordo com relatório da Agência Internacional de Energia divulgado em setembro. Neste ano, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) afirmaram que o governo americano talvez esteja superestimando o crescimento futuro da produção de petróleo de xisto com base em hipóteses equivocadas sobre a tecnologia petrolífera.

Dos 10 projetos petrolíferos sancionados em 2017 que tinham como alvo reservas com pelo menos 50 milhões de barris, somente dois – o bloco Ca Rong Do 07/03, que a Repsol desenvolve no Vietnã, e Liza Fase 1, que a Exxon desenvolve na costa da Guiana – foram classificados como novos campos que produziriam pela primeira vez, de acordo com dados da Wood Mackenzie.

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