Yellen alerta que os mercados são uma ameaça à economia

Por Joseph Ciolli, Anna-Louise Jackson e Dani Burger.

A presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, disse ao Congresso dos EUA na quarta-feira que a queda dos preços das ações representa um risco para a economia, indicando para os investidores que a abordagem aos juros será mais gradual. Mas como o restante das pessoas deveria se sentir com uma queda de 10 por cento das ações em um ano?

Embora não sejam conclusivas, há evidências de que os preços das participações contêm pistas para a economia, seja pressagiando ou influenciando o crescimento futuro. Um estudo realizado pela empresa de pesquisa CXO Advisory Group em julho de 2014 descobriu que as mudanças no PIB previam apenas “ligeiramente” o índice Standard Poor’s 500 nos trimestres seguintes e que os sinais das ações para a economia são mais sólidos. Os dados da Bloomberg mostram que, desde 1929, houve pessimismo nos mercados, em média, nove meses antes do início de recessões.

O depoimento de Yellen perante o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara tratou a possibilidade de que os mercados possam contribuir para uma contração, em vez de simplesmente sinalizá-la. Embora reconhecendo que o aumento da volatilidade poderia refletir “medos do risco de recessão”, suas observações preparadas notaram que as oscilações em ações e moeda poderiam em si mesmas “pesar sobre as perspectivas para a atividade econômica e o mercado de trabalho”, particularmente se forem persistentes.

“O mercado de ações, ao contrário do que muitas outras pessoas acreditam, não é como a previsão do tempo – é como uma bituca do cigarro na floresta”, disse Roger Farmer, ilustre professor de economia da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, em uma entrevista a Joe Weisenthal na Bloomberg TV. “Se o mercado de ações cair 10 por cento, pode esperar que a taxa de desemprego seja 3 pontos percentuais maior do que teria sido na ausência da queda”.

Aqui estão três maneiras como os declínios nos preços das ações podem influenciar o crescimento econômico.

Patrimônio

Quase US$ 3 trilhões em valor de ações foram eliminados das ações norte-americanas desde o início do ano, uma perda de patrimônio que os economistas dizem que poderia azedar a confiança do consumidor e deixar os norte-americanos menos propensos a gastar. A ameaça é possivelmente maior agora – como os investimentos empresariais estão caindo por causa da queda das commodities, aumenta a pressão de que os consumidores se encarregariam de acelerar a expansão.

Os norte-americanos têm muito dinheiro no mercado. Até setembro, as famílias tinham US$ 17,1 trilhões investidos em ações, representando 35,5 por cento de seus ativos financeiros, mostram dados do Federal Reserve compilados pela Ned Davis Research. Embora a proporção tenha caído em relação ao pico de 38,8 por cento em 2014, ela se compara à média de 27,4 por cento desde 1951 e só fica atrás dos anos 1965, 1968, 2007 e dos anos da bolha da internet.

Finanças corporativas

Os sete anos de pessimismo, que começaram quando os mercados acionários internacionais afundaram em março de 2009, têm sido uma benção para as empresas que tentam levantar dinheiro com ações. Entre as aberturas de capital e vendas de ações, mais de US$ 1,7 trilhão foi vendido, incluindo US$ 228,9 bilhões no ano passado.

A volatilidade deste ano está reduzindo esse fluxo. Janeiro foi o mês mais fraco para aberturas de capital desde dezembro de 2008, quando nenhuma empresa passou a ser negociada em bolsa após a falência da Lehman Brothers Holdings. Em janeiro de 2015, 19 empresas se registraram nas bolsas norte-americanas. O mês mais movimentado dos últimos oito anos foi julho de 2014, quando 54 empresas começaram a ser negociadas.

Setor financeiro

A volatilidade nos mercados pode tornar a vida difícil para as instituições financeiras: basta ver o desempenho das ações dos bancos, que caíram duas vezes mais rápido que o S&P 500 neste ano. Corretoras, empresas de seguros e credores constituem a segunda maior proporção do S&P 500 e também são importantes fontes de emprego na economia mais ampla.

Cerca de 8,2 milhões de pessoas, ou 5,7 por cento da força de trabalho nos EUA, tinham empregos no setor financeiro mais amplo, incluindo seguros e imóveis. A contratação aumentou nesse setor nos últimos 29 meses consecutivos, mas continua 2,2 por cento abaixo do pico de novembro de 2006.

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