YPF se transforma em trader de commodities na Argentina

Por Jonathan Gilbert.

Em vez de vender sua soja por pesos que a cada dia valem menos devido à inflação descontrolada, o agricultor argentino Gustavo Tione concluiu que seria melhor trocar a safra por algo que ele pudesse utilizar: mais combustível para abastecer seus tratores.

No mês passado, ele trocou 30 toneladas de soja por cerca de 8.000 litros de diesel da petroleira estatal, a YPF. Tione comprou o combustível com um desconto e evitou pagar taxas de armazenamento e impostos sobre vendas. Mas a YPF também se beneficiou. Como os preços baixos do petróleo bruto estão prejudicando os lucros, a empresa está utilizando acordos como esse para se expandir para o vibrante setor agrícola local e ter acesso aos mercados exportadores de grãos em dólares.

Acordos de permuta estão em alta na Argentina, porque as commodities retêm melhor seu valor do que o dinheiro em espécie. Embora o país continue sendo um dos maiores produtores de grãos e oleaginosas do mundo, o fim de dez anos de subsídios à energia para os argentinos está alimentando uma taxa de inflação de cerca de 24 por cento. Como a YPF deseja trocar mais combustível por safras, a empresa de energia despontou como trader agrícola de peso e concorre com cooperativas locais e exportadores internacionais, como a Cargill e a Louis Dreyfus.

“Agora os agricultores nos veem como um deles”, disse Marcos Capdepont, ex-executivo da unidade de gás natural liquefeito da YPF e diretor de agronegócios desde 2010.

YPF está gerando cerca de US$ 1,4 bilhão em receita anual com a agricultura, em um momento em que o setor agrícola da Argentina está sendo estimulado a aumentar a produção. Depois de tomar posse em dezembro de 2015, o presidente Mauricio Macri eliminou impostos à exportação e facilitou a concessão de permissões de exportar após anos de políticas protecionistas paralisantes de sua antecessora, Cristina Fernández de Kirchner, que haviam desanimado os produtores.

A Argentina colherá o recorde de 40 milhões de toneladas de milho neste ano, e a safra de soja é a segunda maior da história, 57,8 milhões de toneladas, mostram dados do Departamento de Agricultura dos EUA. Projetam-se recordes históricos de exportações de grãos e de remessas de óleo vegetal e ração para animais à base de soja. Com a ajuda do crédito barato para máquinas e de rendimentos maiores devido ao uso mais generalizado de fertilizantes, os agricultores desfrutam da melhor perspectiva em uma década.

Meta de crescimento

Neste ano, a YPF deverá comerciar 1,5 milhão de toneladas de milho, soja e trigo, frente a 1,2 milhão de toneladas em 2016, e a meta é chegar a 3 milhões de toneladas até 2020, disse Capdepont.

A Argentina é o maior exportador mundial de óleo vegetal e ração para animais à base de soja, e a YPF está entrando nesse mercado com as safras que coleta dos agricultores. A empresa paga a processadores como Cargill, Louis Dreyfus e Glencore para moer a soja e vende os produtos no exterior. A YPF está coletando tanto que poderia construir um porto próprio, que custaria US$ 100 milhões, disse Capdepont.

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