Zuma e Dilma agora têm em comum mazelas políticas e econômicas

Por John Fraher e Andrew J. Barden.

Eles eram os queridinhos de Davos, o início e o fim da sigla BRICS. Expansões simultâneas tiraram milhões de pessoas da pobreza e renderam bilhões para alguns sortudos.

Mas agora, Brasil e África do Sul têm em comum escândalos políticos e mazelas econômicas. Os presidentes dos dois países estão lutando contra acusações de corrupção que ameaçam encerrar suas carreiras políticas. Para os dois líderes, Dilma Rousseff e Jacob Zuma, a queda em desgraça é impressionante, uma humilhação piorada pelo fato de os mercados estarem subindo com a perspectiva de suas saídas.

“Os países que muitos pensaram que seriam as locomotivas do crescimento se transformaram em risco”, disse Mario Blejer, ex-presidente do banco central da Argentina e vice-presidente do conselho do Banco Hipotecario. “Eles fizeram parecer que havia um grande progresso em curso. De repente, vimos que era apenas uma mentira”.

A ascensão de ambos os países sempre teve um quê de ilusão. A escalada foi iniciada como parte de uma tese de investimento promovida pelo Goldman Sachs Group. Em 2001, Jim O’Neill, do Goldman, batizou de BRIC o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China, os motores do crescimento global. Posteriormente, a África do Sul foi adicionada, formando o BRICS.

Democracias recentes

O desafio agora é saber se a África do Sul e o Brasil — que apenas nos últimos 30 anos se tornaram democracias de pleno direito — terão a capacidade de limpar a casa enquanto suas economias tropeçam. Se não, existe a ameaça de perderem os ganhos da última década e de colapso de seus mercados. Isso também poderia aumentar os distúrbios sociais.

“Esses eventos tendem a dissociar ainda mais as elites governantes das populações — ainda mais nos casos em que os governos fizeram campanhas com agendas socialmente progressistas”, disse Philippe Dauba-Pantanacce, economista para mercados emergentes do Standard Chartered em Londres. “Eles enfraquecem o contrato social entre o Estado e o povo”.

Ambos os países foram abalados pela queda global dos preços das commodities. O Brasil lida com a mais longa e profunda recessão em pelo menos um século. No país mais industrializado da África, o governo tem tido dificuldades para manter o abastecimento de eletricidade, reduzindo o crescimento — uma das principais preocupações de agências de classificação como a Standard Poor’s, que estão ameaçando rebaixar a dívida soberana para junk.

Enquanto isso, Dilma enfrenta protestos de milhões de pessoas e um implacável sistema judicial em uma abrangente investigação sobre irregularidades na Petrobras. No caso de Zuma, o partido Congresso Nacional Africano está questionando influência indevida entre amigos ricos do presidente.

Fragilidades reveladas

“Agora que eles foram atingidos duramente pela queda das commodities, suas fragilidades são reveladas com maior clareza”, disse Alfredo Saad Filho, professor de economia política da SOAS Universidade de Londres. “Todos os problemas de limitações, contradições e falta de governança vêm à tona”.

O auge desses países entre os investidores passou há tempos. O Goldman Sachs fechou seu fundo BRIC no ano passado após a perda de 88 por cento dos ativos desde o pico de 2010. Os bonds sul-africanos registram o pior desempenho entre os mercados emergentes nos últimos seis meses e o rendimento dos títulos públicos com prazo de 10 anos subiu para 9,18 por cento. O real acumula desvalorização de 12 por cento nos últimos 12 meses, apesar da alta deste ano, impulsionada pelo otimismo dos traders quanto à possibilidade de Dilma deixar a presidência em breve.

Das 40 milhões de pessoas que ascenderam à classe média no Brasil durante os anos de expansão, quase uma em 10 já voltou à pobreza. Do outro lado do Atlântico, a taxa de desemprego na África do Sul, de 24,5 por cento, está ainda pior que no início do mandato de Zuma e é a mais elevada entre os 85 países monitorados pela Bloomberg.

Em sistemas assolados pela corrupção, Dilma e Zuma podem simplesmente ter tido a infelicidade de estarem no poder quando a música parou, segundo Mark Blyth, professor de ciência política da Universidade Brown, nos EUA. Em períodos de crescimento sustentado, “você não nota a corrupção”, disse ele.

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