Por Josue Leonel e Patricia Lara.
O Banco Central colocou um freio nas apostas mais agressivas para a Selic. Agora, para que a taxa básica caia abaixo de 4%, como previa uma parte do mercado, precisará haver uma inesperada frustração com o crescimento econômico. Ou uma queda mais acentuada do dólar e das expectativas de inflação, segundo analistas.
A produção industrial divulgada nesta sexta-feira mostrou alta de 0,3% em setembro, abaixo da estimativa compilada pela Bloomberg de 0,9%, em mais numa mostra de que a recuperação da atividade é gradual.
O risco de a Selic cair abaixo de 4% se materializa se a atividade, assim como ocorreu no início de 2019, também decepcionar no começo do próximo ano, mantendo um quadro de economia muito fraca e inflação sem sinais de convergir para o centro da meta, disse Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.
Mesmo que a economia reaja, porém, ainda haverá a possibilidade de o juro ter uma queda maior se o dólar mostrar recuo expressivo após o leilão da cessão onerosa. “Neste caso, o efeito da atividade sobre a inflação seria atenuado.” O economista vê como cenário básico uma Selic de 4,25% no início de 2020.
A atividade mais fraca levará o BC a cortar mais os juros se for acompanhada por quedas adicionais nas expectativas de inflação, disse Fábio Ramos, economista do UBS. “Se chegar no primeiro trimestre e as expectativas de inflação para 2020 e 2021 caírem ainda mais, se o câmbio se apreciar, a Selic poderá ter uma queda maior.”
Tom de cautela
Ao anunciar o corte de 0,50 ponto percentual da Selic para novo piso histórico de 5% na quarta-feira, o Copom disse haver espaço para mais um ajuste de igual magnitude, ao mesmo tempo em que ressalvou que eventuais novos movimentos exigirão cautela.
O comunicado foi ligeiramente mais positivo sobre a atividade, ao afirmar que os indicadores “reforçam a continuidade” do processo de recuperação gradual, enquanto no Copom anterior o texto dizia que os dados apenas sugeriam uma retomada gradual.
O BC também se mostrou alerta ao dizer que ainda vê riscos para a inflação pelo efeito defasado do corte de juros já ocorrido. Para Alexandre Schwartsman, consultor da Schwartsman e Associados e ex-diretor do Banco Central, o receio do BC a essa altura é porque nunca houve um juro desse nível e “não se sabe o que vai acontecer”.
O economista mantém a expectativa de que a Selic ficará em 4% no final do atual ciclo, já que meio ponto adicional de corte além do alívio previsto para dezembro deve jogar a inflação para mais perto da meta.
Outro vetor de maior cautela na hipótese de um alívio adicional dos juros é a meta de inflação decrescente nos próximos anos, de 4% em 2020 e 3,75% em 2021. Se o BC conseguir estabilizar ou manter a inflação na meta em um contexto de taxa de juro real baixo como está, vai ser uma vitória, diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho.