Por Davison Santana.
Com a aprovação da reforma da Previdência praticamente dada, os operadores buscam a próxima grande aposta local. Enquanto o real é amplamente visto como o ativo menos interesseente e as ações despontam como as preferidas, os contratos futuros de DI parecem ter chegado a uma encruzilhada depois de um longo rali.
A curva de juros brasileira foi completamente reformulada nos últimos três anos, uma mudança que ganhou velocidade nos últimos nove meses, na esperança de que o presidente Jair Bolsonaro fosse bem sucedido em pressionar por reformas fiscais.
Embora a atividade ainda fraca tenha desempenhado um papel decisivo em quão baixa estão as taxas com vencimento mais curtos, a queda no prêmio de risco no longo prazo e o fato de a curva não estar mais invertida mostram como a mudança foi de fato estrutural.
O Brasil já tem uma curva de rendimento semelhante à do Chile. Enquanto as taxas no país vizinho são ainda mais baixas e o spread entre um e 10 anos rende quase metade do verificado no Brasil, o Chile tem avaliação de pelo menos sete graus acima pelas três principais empresas de classificação. Isso permite que ele tenha acesso a fontes de financiamento mais abundantes e mais baratas.
A evolução da curva de juros, que serve como um termômetro para o ativos do país, fica ainda mais clara quando se considera o México. Lá, a forma da curva segue a direção oposta, invertendo-se mais recentemente à medida que o prêmio de risco subia no curto prazo.
Ainda assim, o México permanece firmemente dentro do grupo de grau de investimento, avaliado muito acima do Brasil, outro sinal de que o rating soberano brasileiro pode começar a ser reconsiderado.
Por enquanto, o tão esperado impacto da reforma do governo na economia – que inclui o desbloqueio de investimentos e um novo ciclo de corte da Selic – poderia pressionar para cima as taxas de médio e longo prazos em função de potenciais impactos inflacionários.
Isso reforça ainda mais o argumento de que ganhos adicionais na curva podem exigir debate sobre avanços da nota de risco soberano – desde que a revisão fiscal realmente mude a trajetória negativa da dívida do país.