Por Josue Leonel.
A estratégia do Banco Central de atrelar o início do ciclo de corte de juros ao andamento da Previdência no Congresso gera debate no mercado. A importância da reforma para a economia e mesmo para a política monetária é vista como consensual, pois um fracasso poderia gerar alta do dólar e abalar as hoje comportadas expectativas inflacionárias. Mas há opiniões divergentes sobre em que ponto da tramitação da reforma o BC poderia cortar o juro e até mesmo se é preciso esperar o Congresso diante da fraqueza econômica e da inflação controlada.
“O nosso regime de política monetária não deve ser indexado a decisões do Congresso”, diz Luiz Fernando Figueiredo, fundador da Mauá Capital e ex-diretor do Banco Central, que já via condições para redução da Selic na reunião anterior do Copom, de 19 de junho.
Para ele, se os modelos já levam a expectativa sobre reforma em conta e sugerem inflação no horizonte relevante abaixo da meta, o BC deve cortar os juros. A partir daí, a autoridade monetária poderia reagir rapidamente em caso de choque, como a não aprovação da reforma – que não é a probabilidade dominante neste momento.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reiterou na quinta-feira que atualmente o risco com a Previdência é prepondenrante para a política monetária, mas disse que não há uma relação mecânica entre aprovação da PEC e a ação do órgão. Segundo ele, o mais importante é ver como o tema afetará o canal da inflação.
Alberto Ramos, economista-sênior do Goldman Sachs, considera correto o BC condicionar um eventual corte de juros à aprovação das reformas. “O fracasso em aprovar as reformas geraria forte pressão de depreciação do real, o que eliminaria qualquer espaço de curto prazo para cortes de juro.”
Renato Pascon, gestor de fundos multimercado e renda fixa da Franklin Templeton no Brasil, considera que a atual equipe comandada por Campos Neto se revelou mais rigorosa do que a anterior, de Ilan Goldfajn, ao não cortar o juro no Copom anterior.
O cenário para o corte da Selic foi desenhado pelo “cavalo de pau” no exterior, onde a perspectiva mudou de alta para corte de juros pelo Federal Reserve. No Brasil, as projeções para PIB e inflação caíram rapidamente e existe maior consenso sobre a aprovação de uma reforma robusta.
Também se discute qual será a dose e o tamanho do ciclo de alívio monetário, a depender do cronograma no Congresso e do conservadorismo do BC. Se no próximo Copom, em 31 de julho, a reforma já estiver aprovada na Comissão Especial, o BC poderá cortar a Selic em 0,50 pp, e não os 0,25 pp esperados, na avaliação de Pascon. Caso contrário, ficará reforçada a visão de um BC muito rigoroso.
Já um atraso da reforma pode acabar abrindo espaço a um ciclo de baixa ainda maior da Selic. “Quanto mais atrasa a reforma, mais atrasa a recuperação, que a essa altura já não se espera que seja muito pujante. Mais tempo ficaremos com muita ociosidade na nossa economia, o que amplia o risco de inflação abaixo da meta”, diz Figueiredo, da Mauá.
O Banco Central disse, por meio da sua assessoria de imprensa, que não iria comentar as avaliações dos analistas do mercado.