Por Josue Leonel, Vinícius Andrade e Patricia Lara.
O mercado sonha com uma reforma da Previdência robusta a ser apresentada pelo ministro Paulo Guedes, para cortar entre R$ 1 trilhão e R$ 1,3 trilhão em gastos ao longo de 10 anos, mas já admite que o impacto fiscal deverá ser menor após as esperadas negociações no Congresso. O mesmo realismo vale para a expectativa de prazo. Seria “maravilhoso” para os investidores a aprovação completa ainda no primeiro semestre, entretanto o mais provável seria a reforma começar a ser votada na Câmara em maio e ter a aprovação total, inclusive no Senado, até o terceiro trimestre.
Para os analistas, um número final entre R$ 600 bilhões e R$ 1 trilhão de economia deverá ser bem recebido. Seria visto como decepção, contudo, se a negociação no Congresso reduzir a reforma para um porte menor ou mesmo igual ao da proposta do ex-presidente Michel Temer, que previa corte de gastos inferior a R$ 500 bilhões, mas teria uma tramitação mais rápida. Confira as expectativas dos profissionais do mercado:
Economia
- Citigroup: Cenário base é que haja economia próxima a R$ 1 tri ao longo dos próximos 10 anos, após a equipe econômica negociar com o presidente pontos da proposta original elaborada por Guedes; esta proposta original seria mais robusta, com impacto de R$ 1,3 trilhão
- Mongeral: Mercado espera reforma robusta e ninguém imagina algo menor do que o projeto original de Temer, de em torno de R$ 800 bi em 10 anos. “Por isso, é importante chegar robusta ao Congresso. Não adianta a reforma chegar ao Congresso já magra, ser negociada e não sobrar quase nada”, disse estrategista Patrícia Pereira
- Legacy: Pelas sinalizações do ministro, a economia se situará na casa de R$ 1 trilhão em dez anos. Expectativa é de que este valor seja diminuído ao longo das negociações. Uma economia na casa de R$ 600 bilhões parece politicamente factível e imporia à dívida pública uma dinâmica favorável à frente
- Mizuho: Para o mercado, uma boa reforma teria de ter em torno de R$ 800 bi de economia em 10 anos. O Guedes está sugerindo na casa de R$ 1 tri, mas as negociações tendem a reduzir este valor, disse estrategista Luciano Rostagno
- BNP: Alguns pontos da reforma devem ser aprovados neste ano e gerar economia em torno de R$ 500 bilhões no final de 10 anos – número mais próximo da reforma de Temer do que a estimativa de R$ 1 trilhão citada pelo governo, diz economista Gustavo Arruda
Idade mínima
- Safra: “É provável que o presidente vá optar por uma idade mínima mais baixa para mulheres, diferente dos 65 anos para os dois gêneros incluído no primeiro draft”, disse o economista Carlos Kawall
- Mizuho: Ideal seria idade acima de 60 anos tanto para homens quanto mulheres, que é o mais praticado mundo afora, mas há dúvidas se o governo não será mais flexível
- Mongeral: 65 para homens e mulheres seria uma proposta robusta, mas ideia de uma idade de 57 para mulher “frustra muito”, pois nesse caso seria ainda menor do que a prevista na proposta de Temer, disse Patrícia
Prazo de aprovação
- Bradesco BBI: “Nós ainda vemos a possibilidade de a proposta ir para o plenário da Câmara em maio”, disse analista Gustavo Gregori
- Mongeral: Reforma deve ser aprovada este ano e, num cenário otimista, ainda no terceiro trimestre. “Antes disso seria maravilhoso, mas é difícil”, diz Patrícia
- BofA: Pesquisa feita pelo banco com 28 gestores de fundos mostrou que 93% veem a reforma da Previdência aprovada neste ano, enquanto um terço dos investidores vê a aprovação no primeiro semestre
- Mizuho: Ideal seria a reforma ser aprovada no primeiro semestre, mas deve ser no terceiro trimestre pela opção do governo de começar um novo projeto, sem adotar a proposta que já está no Congresso
- Santander: “Uma votação em maio parece ser o best-case scenario e, na nossa visão, o processo de discutir a reforma e formar uma coalizão grande o suficiente para dar confiança ao governo de que ele não será derrotado deve tomar boa parte do ano,” disse economista Luciano Sobral, em relatório
- Itaú: Reforma deve ser enviada ao Congresso ainda este mês e ser aprovada em 2019. Banco disse em relatório que os primeiros sinais do novo governo foram positivos, com a reforma podendo ter imposto fiscal maior que o previsto, embora ainda haja incertezas sobre a aprovação no Congresso
Reação do mercado
- BTG Pactual: “Se a reforma não for aprovada na Câmara até o fim do primeiro semestre, mercados vão reagir negativamente”, disse Carlos Sequeira, chefe de pesquisa de ações para América Latina
- Mizuho: Trabalha com a aprovação da reforma, até porque a alternativa seria muito ruim. Sem a reforma, o país ficaria estagnado e até poderia entrar em recessão, disse Rostagno
- Mongeral: Qualquer coisa abaixo da reforma do Temer seria negativo para o mercado. “Temos um governo novo, eleito. Seria um balde de água fria ver a aprovação de uma reforma aguada, pois mais à frente outras medidas teriam de ser tomadas”, disse Patrícia
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