Para mercado, BC deve sinalizar corte em junho ou julho

Por Josue Leonel e Marisa Castellani.

Cresce no mercado a tese de que o Banco Central poderá mudar seu discurso na reunião do Copom da próxima semana ou no máximo em julho, sinalizando a possibilidade de cortar a Selic nos meses seguintes. O ajuste da mensagem poderia ocorrer com uma alteração no balanço de risco ou, ao menos, com a adoção de um tom mais brando, que reconheceria a melhora do cenário para a inflação, mesmo que deixando o corte dos juros condicionado a um maior avanço da reforma da Previdência.

A precificação de corte na curva de juros já chega a quase 45 pontos este ano, com apostas mais concentradas em setembro e outubro, quando se supõe que a reforma esteja aprovada pelo menos em 1º turno na Câmara. Para Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, o corte da Selic poderá ocorrer ainda em julho, caso a aprovação da reforma na Câmara ocorra antes do recesso.

Como a reforma é vista como “binária” pelo mercado, o economista avalia que o BC poderá ainda não mudar oficialmente o balanço de riscos em junho, mas deverá adotar um viés na direção desinflacionária, sinalizando maior chance de corte no mês seguinte. Kawall espera que a Selic caia para 5,5% até o fim do ano.

O discurso do BC mudará nesta reunião de junho, para que o corte da Selic aconteça no encontro seguinte, em 31 de julho, diz José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, que chegou a escrever, no dia da divulgação do PIB, que os números mostravam o país num “caminho dramático de círculo vicioso”. A percepção sobre as reformas, por outro lado, estará bem mais consolidada, segundo ele. O exterior não deve mudar em relação ao que se vê hoje e as expectativas de inflação local para 2020, nos modelos de Gonçalves, já estão abaixo da meta.

Gustav Gorski, estrategista da RJI Gestão & Investimento, também considera que o BC mudará o balanço de riscos no próximo Copom. “Se não mudar, o mercado atropela”. O Brasil não está tendo crescimento de forma gradual, o repique inflacionário recente foi momentâneo e “o BC terá de dizer isso”, cita o estrategista, para quem, nos próximos quatro meses, há chances grandes de inflação negativa em pelo menos dois deles. Além disso, “indubitavelmente, o processo de reformas andou”, acrescenta o economista. “Não sei quando BC cortará os juros, mas vai mudar o discurso agora.”

Segundo Gorski, os modelos usados pelos economistas apontam projeção de inflação abaixo da meta para os próximos três ou quatro anos e a Selic poderia cair para até 5,5%, permanecendo neste nível pelo menos até 2023. As reformas ajudariam a manter a inflação e os juros baixos. A taxa de juros não é “reforma-dependent”, como sugere o BC, diz ele. “As reformas virão independentemente do governo, inexoravelmente, porque o dinheiro acabou.”

Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados, acha improvável o BC mudar sua comunicação imediatamente, mas já aponta essa possibilidade para o mês seguinte, julho, com corte sendo realizado em setembro. Se o discurso for alterado agora,“fica difícil não fazer uma ação em julho e o BC precisa ver um pouco mais da evolução da reforma da Previdência”. Na opinião dela, o BC tem “segurado um pouco essa onda que a gente está vendo de percepção de corte iminente”.

“Eles estão aguardando, foram enfáticos em relação à reforma da Previdência. Acho que essa é uma sinalização de que, pelo menos por enquanto, o espaço é pequeno para esse tipo de mudança”, diz ela. Até a próxima reunião do Copom, acrescenta Zara, não se terá ainda uma ideia de como o plenário da Câmara se posicionará em relação à reforma. Depois que o Copom iniciar os cortes, em setembro, a Selic terminará o ano em 5,5% e poderá ficar um bom tempo neste patamar, “pelo menos ao longo de 2020”, diz Zara.

Além da inflação benigna e do maior otimismo com a Previdência, em um contexto de atividade fraca, o cenário externo também pode favorecer cortes de juros pelo Copom, segundo os economistas. Desde que o presidente do Fed, Jerome Powell, disse, no dia 4, que o BC americano estava “monitorando de perto” o impacto das negociações comerciais e que agirá quando apropriado para sustentar a expansão da economia, o sinal dovish passou a ecoar mais fortemente nos mercados internacionais.

Mario Draghi, do BCE, embarcou no mesmo tom apenas dois dias depois, ao dizer que o BC europeu não se esquivará das ações de apoio à economia da zona do euro durante um período de enfraquecimento do crescimento. Isso derrubou os rendimentos dos Treasuries de 10 anos americanos e europeus, enfraqueceu o dólar e impulsionou as bolsas.

“Tivemos mudança no cenário externo num sentido desinflacionário e com call de corte de juros nos EUA, uma mudança importante. Ao mesmo tempo, temos no Brasil 15 semanas consecutivas de revisão do PIB de 2019 para baixo”, disse Kawall, do Safra.

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