Por Patricia Lara e Josue Leonel.
A ideia de que a escalada do dólar poderia levar o Banco Central a cortar menos os juros perdeu força esta semana. Últimos dados endossaram a ideia de que a pressão cambial não está sendo repassada à inflação como já ocorreu no passado e o mercado consolidou a ideia de que as intervenções do BC no câmbio não revelam uma preocupação da autoridade com o nível da moeda.
Justamente após o dólar se aproximar de R$ 4,20 na semana passada, a projeção mediana dos economistas pesquisados pelo BC para o IPCA caiu de 3,65% para 3,59% em 2019 e foi mantida em 3,85% em 2020 na última pesquisa Focus. Ambas as estimativas estão abaixo do centro da meta, que é de 4,25% este ano e 4% no próximo.
A atividade fraca no Brasil e a queda das commodities no exterior ajudam a reduzir o repasse da alta do dólar para a inflação, diz Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados. Nas últimas semanas, a melhora da expectativa inflacionária também foi reforçada pelos números mais baixos mostrados pelos IGPs.
A economista estima que o repasse do câmbio está hoje entre 4% e 5%. Isso significaria que, se o dólar subir 10% em um ano, o impacto sobre o IPCA seria de 0,4 a 0,5 ponto percentual. Menos de 10 anos atrás, quando o país vivia “o auge da nova matriz econômica”, com pleno emprego, o repasse era duas vezes maior, perto de 10%, segundo Thais. O chamado pass-through teria caído significativamente a partir da recessão profunda de 2015-16, seguida pela atual recuperação tímida da economia.
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Apesar da alta do câmbio nas últimas semanas, as projeções de IPCA estão sendo revisadas para baixo em função de deflação no preço dos alimentos, diz Gabriela Fernandes, economista-chefe da Gauss Capital. Esta deflação estaria relacionada à normalização das colheitas e ao início de um período com clima mais estável, mitigando riscos para a oferta que poderiam afetar os preços.
Além disso, devido à fraca recuperação econômica, alguns subitens, como aqueles do grupo de saúde e cuidados pessoais, estariam refletindo um menor repasse de preços aos consumidores. “Isso é normal em períodos de menor crescimento econômico: o fator de repasse é menor do que em períodos de expansão, dado que as firmas não conseguem repassar aos consumidores o efeito completo da depreciação cambial”, diz a economista.
Há ainda a expectativa de que o dólar não mantenha o patamar atual, o que estaria levando o mercado a adiar o aumento das projeções de inflação. Na Focus, a estimativa mediana do câmbio está em R$ 3,85 no fim do ano, bem abaixo do nível atual do dólar.
No final de agosto, os juros futuros dispararam e o mercado reduziu a precificação do ciclo de queda da Selic após o Banco Central vender dólar à vista. Isso diante da percepção de que a autoridade monetária poderia estar preocupada com o efeito do câmbio na inflação. Essa especulação, porém, se enfraqueceu recentemente e o mercado recompôs as apostas em um BC mais agressivo.